Onça que matou caseiro estava cerca de 30 kg abaixo do peso
Exames preliminares indicam que o macho pesa 94 kg, mas deveria ter pelo menos 120 kg
Escute essa reportagem

Capturada na madrugada desta quinta-feira (24), a onça-pintada que atacou e matou o caseiro Jorge Avalo, 60, às margens do rio Miranda, em Aquidauana, no pantanal, está cerca de 30 kg abaixo do peso. Exames preliminares indicam que o macho pesa 94 kg, mas deveria ter pelo menos 120 kg. A ação de captura contou com equipes da Polícia Militar Ambiental de Mato Grosso do Sul.
No momento, a onça está no CRAS (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres), em Campo Grande, e passará por um checkup completo de saúde. Foram utilizadas armadilhas para fazer a captura, praticamente no mesmo local em que o animal estava na noite anterior à ação.
Agora, serão coletados materiais para análise, bem como exames de sangue.
"Para fazer toda a parte de checkup e de saúde. Como é um caso muito atípico, a partir da avaliação clínica e de sanidade, vamos ver qual doença que ele tem, porque não é normal o animal desse porte estar tão magro, e assim poderemos tentar relacionar ao caso", explicou o professor e pesquisador Gediendson Araújo, especialista em animais de grande porte.
De acordo com ele, o caso é considerado atípico, mas está relacionado à presença e aceitação do animal silvestre em relação aos humanos.
"O animal perdeu o medo de ver o homem como um predador, e acabou tendo essa situação com esse desfecho. Então a coisa é incomum de acontecer, são poucos os relatos, e é uma pena que teve uma perda humana", disse Araújo.
Conforme a Polícia Militar Ambiental, um ponto de atenção é a alimentação oferecida à onça, na prática que é conhecida como ceva, ação proibida tanto na legislação estadual quanto na federal. A ceva acontece quando pessoas alimentam os felinos ou outros animais para facilitar a sua visualização e exposição, de forma que ele sempre se aproxime.
Vídeo publicado pelo IHP (Instituto Homem Pantaneiro) em julho de 2020 alertava sobre a prática da ceva na região em que o caseiro foi atacado, tendo como exemplo uma onça-pintada que teve seu comportamento natural alterado.
A ação, conforme nota do instituto, traz alto risco para a comunidade ribeirinha, já que o animal deixa de caçar, passando a associar o ser humano com comida. Há uma placa, instalada pela Polícia Militar Ambiental, que alerta sobre o perigo da prática da ceva na região.
O CASO
Jorge Avalo foi atacado no pesqueiro em que trabalhava. Os restos mortais foram localizados, com a ajuda de familiares da vítima, em uma área de mata fechada, a cerca de 300 metros do pesqueiro, na terça-feira (22). As marcas encontradas indicam que o caseiro foi arrastado.
Avalo era procurado desde segunda-feira (21), quando compradores de mel foram até o local onde fica o pesqueiro, conhecido como Barra do Touro Morto, e encontraram sangue e marcas de pegadas do animal.
Em vídeo gravado por um familiar uma semana antes de morrer, o caseiro mostra pegadas de duas onças nas proximidades da casa em que morava e relata uma suposta briga entre os dois animais. O tamanho e a profundidade das marcas na terra chamam a atenção dos homens.
A equipe de buscas também foi atacada no momento em que recolhia as partes do corpo da vítima. Um dos socorristas sofreu ferimentos na mão.
Segundo o biólogo Gustavo Figueirôa, diretor do SOS Pantanal, a onça-pintada não é um animal considerado perigoso para os seres humanos. "É um felino reservado, que evita o contato com as pessoas e não apresenta ameaça direta quando não há uma provocação ou interferência humana".
De acordo com ele, os casos de ataques não provocados por interferência humana são muito raros.
Segundo o zootecnista Luiz Pires, especialista em manejo da fauna selvagem e educação ambiental, a destruição dos ambientes desses animais provoca a diminuição da oferta de alimentos naturais e faz com que eles se aproximem mais das áreas habitadas à procura de presas -galinhas, porcos, carneiros, bezerros, cavalos etc.
"Infelizmente, muitos empreendimentos são erroneamente construídos nas áreas de preservação ambiental, locais de passagem constante desses animais em busca de suas presas", diz. "Assim, acidentes que antes eram raríssimos só aumentam, uma vez que o homem antes era temido e agora passa a fazer parte da paisagem natural desses animais".
MATÉRIAS RELACIONADAS:




Comentários