Teste com novo remédio que faz perder peso em 28 dias
Até 57% das pessoas tratadas com VK2735, medicamento que foi desenvolvido nos EUA, perderam 5% ou mais do peso em 4 semanas
Escute essa reportagem
Perder peso não é uma tarefa fácil, nem rápida. Mas um novo medicamento traz esperança para quem está acima do peso. Em fase de testes, o comprimido levou à redução de peso dos voluntários em apenas 28 dias.
Batizado provisoriamente de VK2735, o medicamento foi desenvolvido pela empresa de biotecnologia Viking Therapeutics, em San Diego, na Califórnia (EUA), para o tratamento de distúrbios metabólicos, como a obesidade. Os resultados apresentados são da fase 1 do estudo clínico, realizada com 45 voluntários.
Os participantes que tomaram o comprimido do VK2735 com a dose mais alta do medicamento (40mg) tiveram redução de 3,3% do peso em 28 dias, em comparação aos que receberam um placebo. A meia dose do medicamento ajudou os pacientes a perderem em média 1,1% do peso no período do experimento.
Uma avaliação adicional dos dados dos voluntários revelou que até 57% das pessoas tratadas com VK2735 perderam 5% ou mais do peso, depois das quatro semanas da pesquisa. Nenhum participante do grupo placebo chegou ao mesmo patamar de emagrecimento.
A endocrinologista Sabrina França fala da evolução no tratamento da obesidade. “Até onde os estudos mostram, o mecanismo de ação desse medicamento não parece ser diferente da tirzepatida, que já é utilizada no mercado internacional e foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas ainda não está disponível para comercialização aqui no Brasil”.
A endocrinologista Gisele Dazzi Lorenzoni explica que é uma medicação em teste, mas que, nessa primeira fase do estudo, mostrou resultados muito satisfatórios em relação à perda de peso.
“Ela apresenta dupla ação, sendo um agonista (que ativam receptores que produzem a resposta desejada) de GLP1 e Gip, ambos hormônios relacionados ao controle da fome e saciedade”.
O cirurgião e nutrólogo Roger Bongestab afirma que a obesidade não tem cura, mas tem controle.
“É uma doença gravíssima que não se cura operando, não se cura com nenhum medicamento porque ela é multifatorial, de cunho também genético e que os medicamentos e as cirurgias só levam a um controle da doença. Então, qualquer pesquisa, qualquer esperança de uma nova arma, é motivo para comemorar”.
Saiba mais
Como funciona?
O comprimido pertence à mesma classe dos remédios injetáveis que têm sido celebrados como novas alternativas eficazes para o tratamento da obesidade, os análogos do GLP-1, a exemplo da semaglutida, princípio ativo do Ozempic e do Wegovy, ambos fármacos desenvolvidos pela dinamarquesa Novo Nordisk.
Enquanto o Wegovy é oficialmente indicado para pacientes com obesidade, o Ozempic é destinado ao tratamento da diabetes tipo 2.
Contudo, por conter a mesma substância, em dosagens diferentes, o Ozempic é muito utilizado para perda de peso. No Brasil, ambos os remédios foram aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas somente ele está disponível nas farmácias.
Simulam hormônio
Esses medicamentos atuam simulando o hormônio GLP-1, que tem receptores em diferentes locais do corpo. No pâncreas, por exemplo, essa interação aumenta a produção de insulina, motivo pelo qual os remédios foram desenvolvidos inicialmente para diabetes.
Já no estômago, o GLP-1 reduz a velocidade da digestão da comida e, no cérebro, ativa a sensação de saciedade. Com isso, a pessoa sente menos fome e, consequentemente, reduz as calorias ingeridas por dia e perde peso.
Resultados
A farmacêutica Viking Therapeutics informou na última terça-feira, que a versão em comprimidos diários de seu medicamento para emagrecimento levou à redução de peso dos voluntários em apenas 28 dias.
Contraindicações
Ainda está numa fase inicial de teste, então estão sendo avaliadas as contraindicações, como salienta a médica endocrinologista Gisele Dazzi Lorenzoni.
A princípio não seria indicado para grávidas, crianças, pacientes com hipersensibilidade à medicação e com alteração de função hepática, mas ainda a medicação não foi testada em um amplo número de pacientes. “Precisa-se de outras fases para melhor avaliação”.
Queulla Garret, endocrinologista, acrescenta que uma das contraindicações seria a pancreatite aguda, além de distúrbios gastrointestinais graves e tumores em atividade.
Efeitos adversos
De acordo com a farmacêutica, não foram identificados efeitos adversos graves. Nas queixas relatadas, alguns casos de náuseas e diarreia, foram consideradas leves ou moderadas.
Dos testes até a comercialização
Sendo este um estudo de fase 1, como ressalta a endocrinologista Queulla Garret, ainda existe um longo caminho pela frente para os estudos de fase 2 e 3.
Por exemplo, o Wegovy e o Mounjaro citados como comparadores, são moléculas que estão em estudo há mais de oito anos e ainda não estão à venda no mercado brasileiro.
Ela complementa que uma pesquisa clínica requer tempo e muita dedicação para a análise de eventos adversos e resultados.
Fonte: Médicos entrevistados na reportagem e pesquisa A Tribuna.
Comentários