“Não abri mão de viver”, diz estudante do ES nota mil no Enem
Amanda Zampiris faz parte de um time de quatro alunos de escola pública do País que alcançaram nota máxima na redação
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Estudante da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Marcondes de Souza, em Muqui, no Sul do Espírito Santo, a capixaba Amanda Zampiris, de 18 anos, faz parte de um time de quatro alunos de escola pública do País que alcançaram nota 1000 na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Amanda, que sempre estudou em escola pública, concluiu o ensino médio no ano passado.
Ao todo, 60 candidatos no País tiraram a nota máxima na Redação. O tema de 2023 foi “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.
À reportagem de A Tribuna, Amanda contou como era a sua rotina diária de estudos e lazer e da surpresa ao descobrir que tinha tirado a nota máxima.
A jovem tinha aula de redação na escola e também fez um curso à parte. Ela admite que não gostava muito de fazer redação, mas passou a gostar após todo o suporte que recebeu da escola e de professores.
Amanda contou que foi preciso conciliar os estudos com a vida pessoal, por isso não abria mão de viver a vida extra-estudantil.
Ela disse que precisou deixar o celular um pouco de lado para focar nos estudos, mas não deixou de aproveitar os momentos de lazer com família, amigos e namorado.
A Tribuna – Quando começou a focar mais nos estudos e na redação?
Amanda Zampiris – "Sempre fui muito dedicada nos estudos, mas no ano passado, quando estava no terceiro ano do ensino médio, eu foquei mais, especialmente em redação."
- Como era o seu desempenho na redação nos simulados?
"Eu sempre tive notas boas, acima de 900, mas confesso que não esperava tirar a nota máxima no Enem. Foi uma surpresa."
- Para muitos, a Redação é considerada vilã do Enem. Como fazia para ficar atualizada em relação aos temas cotados?
"Sinceramente, eu não li nenhum livro. Eu estudava mesmo pelos argumentos que eu já sabia e eu conseguiria encaixar, algumas citações. Assistia a noticiários na TV e li sobre temas da atualidade.
Também conciliava as videoaulas com a realização de simulados. O curso de redação que fiz tinha aulas gravadas e ao vivo também, então, sempre que possível, eu assistia às aulas e praticava redação.
Para me preparar para o exame, eu pegava os assuntos que mais caem em cada disciplina e toda semana eu focava em um deles."
- Quando viu o tema da redação, sentiu que teria domínio?
"Quando eu abri e vi o tema, eu percebi que era totalmente diferente do que as pessoas estavam falando. No primeiro momento, eu falei: ‘meu Deus, o que eu vou fazer?’, mas eu mantive a calma e pensei que iria conseguir, porque eu tinha estudado, me preparado. A partir daí, fui confiante que tiraria uma nota boa."
- Você fez a redação antes ou deixou para o final?
"Primeiro, eu li o tema e fiz o rascunho. Depois, fiz algumas questões e já voltei para a redação, passei a limpo e parti para responder o restante da prova.
Eu lembro que dissertei sobre o machismo que existe na sociedade, sobre essa sociedade patriarcal que faz com que o trabalho das mulheres seja menos valorizado."
- Como era a sua rotina de estudo no dia a dia?
"Eu estudava pela manhã, na escola. Chegava em casa meio-dia mais ou menos e ia almoçar. Depois, descansava um pouco e, por volta de 13h30, começava a estudar."
- Ia até que horas?
"Até 18 horas mais ou menos. Fazia só uma pausa rápida para lanchar. Depois disso, voltava a estudar e dava uma nova pausa à noite, para descansar."
- O que fazia à noite?
"Começava a ver um filme, alguma série, tomava um banho para relaxar. Assim era a minha rotina de segunda a sexta-feira."
- E aos finais de semana e feriados?
"Quando eu tinha tempo, não tinha algum compromisso, alguma coisa para fazer, eu até tentava estudar um pouco mais, mas também não deixava de viver não.
Todo final de semana, sábado e domingo ou feriado, sempre tinha algumas horas dedicadas para o estudo, porém, em menor escala."
- Nos momentos de lazer, o que fazia?
"Se a minha família me chamasse para sair, eu ia para espairecer um pouco a mente. Eu não deixava de ir em aniversários ou comemorar alguma coisa para ficar estudando."
- E o celular, abriu mão?
"Eu evitei o celular para focar nos estudos, deixei um pouco de lado. Eu ficava no computador estudando e o aparelho ficava um pouquinho longe para eu não cair em tentação (risos). Eu tirava o máximo de distrações de perto."
- Quem era a Amanda com o celular antes do foco nos estudos?
"Nossa, eu ficava a tarde inteira, mas mudei esse hábito no ano passado justamente para conseguir focar mesmo."
- Qual o curso deseja fazer?
"Eu pretendo fazer Medicina Veterinária."
- Pretende estudar na Ufes ou em alguma faculdade privada?
"Pela minha média, acho que dá para estudar na Ufes, mas vou ver direitinho. Ainda estou avaliando. Agora, eu tenho um pouco mais de possibilidades, mas não descarto estudar em uma faculdade privada."
- Muita gente está comemorando o resultado do Enem e outros estão tristes por terem estudado e não alcançado uma boa pontuação. O que diz para essas pessoas?
"Nossa, eu diria que a sua vida não acabou por isso. Uma nota em uma prova não vai definir a sua vida inteira. Recomece quantas vezes for necessário. Aproveite esse ano para estudar de novo, se inscreva de novo no exame. A vida não acabou. Foque nos estudos, estude ao máximo, mas não abra mão do convívio social, com a família, amigos, namoro, afinal, eles dão força para passar por essa etapa."
- Quando soube do resultado, teve festa?
"Passei quase todo o dia (terça-feira) tentando olhar o resultado e quando eu vi a minha nota fiquei em êxtase. Era uma alegria que não cabia no peito. Não apenas eu, mas meu pai, minha mãe, minha família. Todo mundo chorou. A sensação é de dever cumprido. Ficamos felizes e saí com a minha família para comer uma pizza e comemorar."
Perfil
Amanda Zampiris
É capixaba e tem 18 anos.
Mora em Muqui, no Sul do Estado.
É a caçula da família.
Sempre estudou em escola pública e, em 2022, fez Enem como treineira.
No ano passado, concluiu o ensino médio na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Marcondes de Souza, em Muqui.
O curso de graduação escolhido foi Medicina Veterinária.
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