Viciados em pornografia digital pedem ajuda para salvar casamento e emprego
Dependência tem gerado impactos nos relacionamentos, e especialistas dizem que demanda por tratamento aumentou
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O lado obscuro da busca obsessiva pelo prazer sexual no mundo virtual tem se revelado nos consultórios. Enfrentando problemas no trabalho e em relacionamentos amorosos – até mesmo em casamentos –, viciados em pornografia digital têm pedido ajuda a médicos e psicólogos para se libertar dessa dependência.
Nem sempre esses pacientes admitem de imediato que são dependentes de conteúdo erótico, mas durante o tratamento isso vai ficando evidente.
A médica psiquiatra Janine Andrade Moscon conta que tem atendido pacientes com dependência de pornografia e garante: a demanda tem aumentado.
“O perfil mais comum no meu consultório são de homens, jovens, com menos de 40 anos, solteiros mas muitos casados também. Vivem relações distanciadas, cada um dentro de seu celular, inclusive com uma vivência afetiva muito individualizada”.
Essa dependência, segundo ela, gera um impacto no relacionamento, pois muitos não conseguem mais sentir prazer no contato com físico com o parceiro.
“A pessoa passa a sentir prazer preferencialmente através do consumo da pornografia, que gera um prazer rápido e intenso. Chegamos a casos de término de relacionamento quando o parceiro não consegue mais suportar o comportamento do outro”.
A psicóloga Talita Alves Barbosa da Silva percebe que o vício em pornografia digital aumentou consideravelmente após a pandemia.
“O vício em pornografia digital impacta negativamente nos relacionamentos amorosos e pode contribuir para o declínio na vida sexual. Isso porque, além da dependência, pode promover visões distorcidas do sexo que afetam o bem-estar sexual, a autoestima, a confiança entre o casal, e pode levar até mesmo a casos de separação ou divórcio”.
O psiquiatra Valdir Campos explica quando é hora de buscar ajuda. “Quando a pessoa está completamente envolvida, começa a ter prejuízos, como nos relacionamentos, no casamento, ou no trabalho, porque passa várias horas envolvida com a compulsão, pela obsessão ali pelo sexo, e aí ela já está tendo prejuízo”.
SAIBA MAIS
Alguns sinais
- Informações do Addiction Center (Centro de Dependência), de médicos e especialistas entrevistados mostram sinais que acendem o alerta de que a pessoa pode ter desenvolvido um vício em pornografia.
1 - Sem forças para parar
- Apesar de tentar, a pessoa não consegue deixar de acessar a pornografia, tornando-se dependente.
2 - Passar horas no computador
- O tempo dedicado à pornografia começa a ser cada vez mais longo, por vezes tomando grande parte da rotina, chegando a perder noites de sono. Consequentemente, a pessoa pode perceber uma queda na sua produtividade ou começa a não ter mais interesse em outras atividades.
3 - Inquietação
- A frequência com que consome conteúdo pornográfico vai aumentando e, quando passa um tempo sem consumi-lo, sente desejo e inquietação.
4 - Desinteresse por sexo
- Perda de interesse pelo sexo real e de desejo sexual pelo parceiro ou parceira. Além disso, as exigências durante a relação sexual podem aumentar de forma desproporcional, causando frustração e brigas.
5 - Nada de atração física
- Além das expectativas irreais em relação ao sexo, a dependência em pornografia pode levar ainda a visões distorcidas sobre beleza e comportamento entre quatro paredes.
6 - Desatenção e sonolência
- É comum a pessoa viciada em pornografia digital andar distraída ou com muito sono por causa das noites de sono perdidas.
7 - Irritação
- A exemplo de qualquer vício, quando a pessoa não consegue parar de usar pornografia, por exemplo, ela pode demostrar irritação e, nos casos mais extremos, mudança de comportamento, como agressividade.
O tratamento
Transtorno
- Primeiramente é importante destacar que o quadro não aponta para um diagnóstico preciso na Classificação Internacional de Doenças (CID), mas pode ser a manifestação de um distúrbio chamado de Transtorno de Comportamento Sexual Compulsivo.
- O tratamento envolve várias etapas e deve ser individualizado. No entanto, a conscientização do paciente sobre a gravidade da situação é um importante passo.
- Em casos mais graves, o uso de medicamentos pode ser necessário para tratar os sintomas de ansiedade e depressão associados.
Fonte: Addiction Center, médicos e especialistas e pesquisa A Tribuna.
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